28 janeiro 2011

Covest/UFPE faz lambança geral na divulgação dos primeiros lugares do Vestibular da UFPE

Blog Acerto de Contas

Pouco antes da divulgação do vestibular da UFPE, a Covest divulgou o nome dos aprovados em primeiro lugar no vestibular. Veio a “surpresa”: os três primeiros colocados no vestibular eram do curso de Música. Além disso, dos 10 primeiros, 8 seriam de escola pública.

Não é preciso ser um gênio para perceber que algo estava errado.

Na verdade a classificação dos dez primeiros não mostra classificação alguma.

Os candidatos de música, por exemplo, fizeram um teste de aptidão em música. E isso entrou na nota final de classificação.

Em resumo, se você foi fazer o teste de aptidão em música e se saiu muito bem, tirou 10, e isso entrou no cômputo final, pois segundo o manual do candidato, no seu item 7.2.5, diz:

O candidato com opção para os cursos de  Bacharelado em Música (Canto ou Instrumento) terá definido o seu desempenho após a segunda etapa mediante o cálculo da média aritmética do ”Desempenho na Segunda Etapa” (D2), conforme especificado no item anterior, e da nota na segunda fase do ”Teste de  Habilidade em Música” (NH), medida na escala de zero a dez pontos.

Além disso, os alunos de escola pública tiveram 10% adicionado à nota, podendo ser retirado no ato de matrícula.

Isso parece pouco, mas para aqueles que estão disputando os primeiros lugares, 10% da nota faz uma diferença enorme. E a notícia divulgada fica parecendo extremamente positiva: “Dos 10 primeiros lugares, 8 são de escola pública“.

Não tem nada disso. Uma pessoa que tirou 7, leva 0,7 de bonificação, e acaba indo para os primeiros lugares. E o exame de habilidade em música é muito diferente de uma prova escrita. Nada contra o teste em música, mas é preciso saber que os alunos que estão se submetendo a uma prova teórica de física, química, geografia e história estão realizando exames absolutamente diferentes de um exame prático, e não podem ser colocados na mesma classificação. O próprio nome diz, Exame de Habilidade, que até anos anteriores era utilizado apenas para classificação interna no curso, e não para computação e divulgação de primeiros colocados. Seria como se um aluno de educação física fosse premiado por ter habilidade em algum esporte específico.

A ideia final é passar uma visão de que a escola pública melhorou muito, e que o Enem é maravilhoso, pois dá igualdade de oportunidades aos candidatos, mas no final não é nada disso. A escola pública continua tão ruim quanto antes, e o Enem pode até ajudar na redução da decoreba, mas nada tão significativo. O bônus deve ser concedido, mas não deve servir como fator de divulgação de lista de primeiros colocados, sob pena de mascarar uma situação.

Em outras palavras, a lista dos dez primeiros lugares divulgada pela Covest está errada.

Para tentar ser ainda mais claro, o estudante que passou em primeiro lugar no vestibular tirou nota 7,62 na primeira etapa e 4,53 na segunda etapa. Impulsionado pela nota do exame de aptidão e provavelmente pelos 10% para escola pública, chegou a 8,59. Já o aluno Thiago Costa Melo, que ficou em sexto lugar, e fez para Medicina, tirou 7,97 na primeira fase e 7,49 na segunda. Como deve ter recebido o bônus de escola pública, ficou com 8,45. Outra aluna, do curso de direito, ficou com situação semelhante. Ela foi apresentada como a quarta colocada, mas na prática foi a primeira.

Sendo ainda mais direto, o aluno que ficou em primeiro lugar tirou média aritmética 6,07, enquanto o aluno de medicina que ficou em sexto lugar tirou 7,73. Ambos estudaram em escola pública, e o primeiro, por fazer um Exame de Aptidão bem feito, ganhou um carro 0 KM.

Onde está o mérito disso? E se era para contabilizar o exame prático, por que os outros, como por exemplo dança, não foram contemplados?
A presidente da Covest, Licia Maia, é especialista nesse tipo de coisa. Já esteve envolvida em diversas confusões do tipo. Já brilhou na Veja, quando comandou uma prova extra-vestibular totalmente ideologizada, e depois quando fez uma seleção para bolsas no exterior. (veja aqui)

Vale a pena conhecer o seu histórico.

O melhor mesmo é que todos os portais dos grupos de comunicação estão divulgando a fotografia dos primeiros colocados, e ninguém nem ao menos se perguntou se essa lista não estava estranha.

No fim de semana vai ter escola divulgando propaganda de primeiro colocado sem ser, listas incorretas, reportagens sobre a beleza que está a escola pública, o sucesso que é o curso de música da UFPE, e por aí vai.

O prejuízo informacional é grande.
 
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